Início A Festa Nunca Termina: Juno

Juno

Acreditem em mim: Juno é, sim, um filme bacana! E seu maior mérito não se concentra apenas em sua trilha sonora, que vai de Stooges a Hole, passando por ícones do indie como Sonic Youth e Belle and Sebastian. Divertido, boas atuações, tiradinhas bem-humoradas, tudo isso com direito a uma lição de moral nada piegas, mas daquelas que você sai do cinema um pouco mais feliz e acreditando que resta alguma salvação para a humanidade. Por causa disso, não seria exagero afirmar que o filme do canadense Jason Reitman (Obrigado por fumar) é o Pequena Miss Sunshine do ano. Além de tudo, assim como o filme da excêntrica família da kombi amarela, Juno concorre ao Oscar de Melhor Filme com filmes de peso, como o badalado Desejo e Reparação, premiado com o Globo de Ouro de Melhor Filme, Sangue Negro, que traz Daniel Dey-Lewis como protagonista, e Onde os Fracos Não Têm Vez, dirigido pelos já consagrados irmãos Coen.


Eu confesso que, de início, o filme não despertou em mim interesse, mas, sim, uma certa preguiça e não tenho o menor problema em assumir que, além da trilha sonora, outros dois motivos contribuíram para que eu enfrentasse a pré-estréia em pleno carnaval: a foto da personagem principal com um telefone em formato de hambúrguer- um dos meus sonhos de infância era possuir um - e o cartaz do filme. No entanto, depois de assistí-lo, Juno me surpreendeu. E seu maior mérito não se concentra em sua trilha sonora. O grande trunfo de Juno é a originalidade e a leveza ao abordar como ponto de partida um tema tão batido como a gravidez na adolescência e a imaturidade de uma jovem assumir tão cedo o papel de mãe. E isso é conquistado por dois motivos: a forma pouco convencional e nada densa como os personagens encaram a gravidez da adolescente que dá nome ao filme e o humor satírico tão presente nas obras de Reitman.


Juno (Ellen Page) é uma garota de 16 anos que foge aos padrões das adolescentes de sua idade. Não se encaixa em padrões como o da garota nerd esquisita e nem às gostosonas teenagers. É uma mistura dos estilos indie e grunge, sendo que esse último é representado pela camisa xadrez que a acompanha em quase todas as roupas. É uma menina espirituosa, é ela a dona das sacadinhas mais legais do filme, e dotada de grande personalidade. O filme tem início com Juno fazendo, pela terceira vez o teste de gravidez, e relembrando de forma sarcástica a sua primeira vez. Juno encara o fato de uma forma pouco convencional, com uma coragem invejável a qualquer garota que na sua idade descobrisse grávida de um cara que sequer era seu namorado. Não tinha maturidade para ter um filho. Fato. E ela estava certa disso. Para se desfazer da criança, Juno encontra uma solução bastante incomum: doar a criança a um casal que se dispusessem adotá-la. Sem rodeios, Juno explica a situação aos pai e à madrasta, com a qual tinha um certo distanciamento. E uma reação que poderia ser de desespero é vista por eles de forma compreensiva.

É aí, que Juno conhece Vanessa, interpretada pela linda Jennifer Garner, e Mark (Jason Bateman), um casal rico e excêntrico - yuppie seria a caracterização cabível - disposto a adotar a criança. Vanessa parece se sentir muito mais atraída pela idéia de ser mãe do que Mark. O homem, cujo sonho era se tornar um astro do rock, parece viver sufocado pelas imposições da mulher.

O filme não opta por uma discussão moralista de afirmar que a escolha de Juno é certa ou errada, e é aí que ele encontra sua sacada. A chegada de uma criança faz com que transformações ocorram na vida dos envolvidos. Juno passa por um processo de amadurecimento, descobre-se apaixonada pelo pai de seu filho e se aproxima de sua madrasta, e o casal passa a questionar se estava preparado para adotar uma criança. Dessa forma, o nascimento pode ser encarado como uma metáfora de mudança e de aparecimento uma nova realidade. De fato, o nascimento de um bebê é prenúncio de coisas boas.

Conclusão: Saí do cinema cantando Belle and Sebastian, enxergando o mundo de uma forma mais amena e feliz. Nada mal para uma terça-feira de carnaval, em uma cidade na qual a maior diversão na folia de rei Momo é o bom, velho e barato cinema.

PS.: Tentei assistir ao filme no BH Shopping, os ingressos estavam esgotados. Acabei vendo no Ponteio. Ironia ou não, logo depois assisti ao denso, tenso e intenso 4 meses, 3 semanas e 2 dias, que tem como ponto de partida um aborto. Uma chapuletada no estômago, saí engasgada. Brilhante!

Em tempo, Juno concorre ao Oscar em quatro categorias: Melhor Filme, Direção, Roteiro (Diablo Cody) e Atriz (Ellen Page)

Por Juliana Semedo

2 comentários:

Unknown disse...

Nossa! Eu tow louca para assitir esse filme! Agora que me deu mais vontade!

Ju Semedo disse...

Assista, então!

Vale a pena!